terça-feira, 13 de maio de 2008

Alheamento

No fogão
espumava sopa
esquecida
os ladrilhos azuis
tomavam outra cor
pregando um abandono
contínuo
os gatos andavam
pelo velho tapete
outros ronronavam
sobre o estofado puído
o calendário amarelado
despencava da parede
num equilibrio
de peixe no aquário
rangiam janelas
abertas a muito
do quarto vinha
o ronco baixo
do homem sem lembranças
e esquecido
pela pressa
que pulsava
lá fora.

Desatinos de terça-feira

Inerte olha
calçada cheia de flores lilases
denunciando fim de estação
o agasalho nos ombros
a incerteza de chuva
no bolso lista de compras
na cabeça uma música desconhecida
e nenhum desejo
de encarar a rua

Missa de corpo presente

Quando o vento
fez as calças
dançarem no varal
ela soube
que era momento
de arrumar o quarto
para a ausência
de abrigar a solidão
nos bordados
nos olhos apagados
na asfixia
da espera
por quem não vem.

Mudez

Dentro do silêncio
se esconde barulhos
ensurdecedores...

Enfado

Caiu do invisível
hora falecida
morta pelo tédio
que se retém
no meu vagar
de estar à toa
de ser alheia
ao tempo
palpável
sorrateiro...

Fragmentos de dia

A primeira parte
fora esquecida
na preguiça do vento
que não comparecia
deixando a tarde
perdida
No topor sonâmbulo
das 15 horas
na lânguidez
da sesta
sobre a colcha
indiferente, branca.